Os dados são desanimadores. De todo o volume de investimento feito em startups no ano
passado, apenas 0,05% foi para empresas fundadas apenas por mulheres. A maioria das
empresas é formada por homens brancos, o que não representa a maioria da população.
A falta de acesso histórica a oportunidades por grupos minorizados, em especial pessoas
negras e mulheres, não só trabalha para a manutenção dessa disparidade, como também
reforça estereótipos e preconceitos raciais e de gênero. Mudar essa realidade é importante
não só por uma questão de justiça social, mas como forma de aumentar a qualidade das
próprias inovações geradas. Diversas pesquisas demonstram que o grau de inovação em
um ecossistema ou empresa é tão grande quanto o nível de diversidade das pessoas que o
compõem. Faz sentido. Diversidade traz mais pontos de vistas, vivências e repertórios,
que, combinados, trazem mais criatividade, outras visões de oportunidades e novas
formas de soluções.
Outro aspecto relevante dessa temática está na falta estrutural de mão de obra qualificada
pra o setor de tecnologia. Há mais vagas do que pessoas qualificadas para preenchê-las e
esse déficit vem crescendo nos últimos anos. Elas exigem ações voltadas para a formação
de mais pessoas na área e trazem e uma grande oportunidade de se aumentar o grau de
diversidade da área.
Nessa temática, é importante reconhecer o papel de políticas públicas voltadas para a
promoção de mais diversidade no ecossistema de empreendedorismo e inovação. Um
levantamento feito pela Dínamo em 2021 mostrou exemplos do mundo todo, de ações
nesse sentido, como programas no Canadá e na cidade de Nova York. Ao mesmo tempo,
uma nova versão do mapeamento lançada na semana passada pela entidade (do qual este
colunista fez parte como coautor) demonstra que muito pouco foi feito nessa área no
Brasil.
Se de um lado o novo mapeamento dá luz a boas iniciativas, como os programas de
inclusão de empreendedores negros do Sebrae SP, de outro fica nítida a necessidade de
mais ações nessa direção. Por isso, lançamos na Dínamo um grupo de trabalho multidisciplinar, com experiência e vivência na temática, com o objetivo de elaborar propostas e sugestões de políticas públicas direcionadas à promoção da diversidade e
inclusão no ecossistema. Entendemos que, mais do que jogar luz sobre o problema, é
preciso partir para a ação para enfrentá-lo e esperamos que a iniciativa renda frutos nesse
sentido.
Por Felipe Matos
Fonte: Republicação da matéria original do Estadão https://link.estadao.com.br/noticias/inovacao,falta-de-diversidade-no-ecossistema-de-inovacao-exige-acao,70004125437.amp