Pesquisa mostra heterogeneidade no atual panorama dos Núcleos de Inovação Tecnológica no Brasil

A pesquisadora da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e vice-presidente do Fortec, Ana Torkomian, em meio ao anúncio do início do novo período de apuração de dados para a Pesquisa Anual Fortec de Inovação fez um balanço das informações e análises da série histórica da pesquisa elaborada pelo Fortec que afere características e atividades dos Núcleos de Inovação Tecnológica do Brasil (NITs).

A Pesquisa Fortec de inovação acumula uma série histórica de sete anos consecutivos. Como coordenadora desta pesquisa, como você avalia o nível de maturidade dos NITs do país segundo os dados da pesquisa? 

Percebemos que há grande heterogeneidade dos NIT quando comparamos diferentes indicadores. Com relação aos pedidos de proteção de propriedade intelectual, as regiões nordeste e sudeste têm médias parecidas, porém isso não se mantém quando são observados os licenciamentos, bastante superiores na região sudeste, seguida pela região sul do Brasil. Além disso, quando comparamos o tempo de existência dos NIT brasileiros, há grande dispersão nas respostas, com NITs entre 2 e 42 anos de vida. Já em relação à implementação das políticas de inovação, 9% dos respondentes ainda não haviam implementado nenhuma das 17 políticas pesquisadas, enquanto 25% possuíam mais de 12 políticas já estabelecidas, o que indica que o país abriga NIT com distintos graus de maturidade.

Como pode ser caracterizada a atuação dos NITs brasileiros? 

Os NIT brasileiros entendem que seus principais objetivos são: prestar serviço a inventores/pesquisadores da própria ICT; promover o relacionamento da ICT com empresas, instituições públicas e do terceiro setor e promover a difusão do conhecimento científico e tecnológico da ICT.

Depreende-se que os NIT têm como prioridade dar suporte aos inventores/pesquisadores da ICT (atender o público interno), fomentar parcerias com empresas (atender o público externo) e difundir o conhecimento por meio da proteção da PI e transferência de tecnologia. Outra característica importante é a área de dedicação dos colaboradores dos NIT. Vimos que 37,8% dos profissionais dos NIT atuam em atividades relativas à Propriedade Intelectual, o que indica uma dedicação maior para esta área em relação à área de Transferência de Tecnologia, à qual há uma dedicação de apenas 23,9% dos profissionais.

Os NITs brasileiros vêm conseguindo interagir com empresas potenciais parceiras para desenvolver em conjunto tecnologias geradas na ICT?

Sim, por diferentes caminhos. Nos últimos anos houve um crescimento na atuação em atividades de transferência de tecnologia e de pesquisa colaborativa – com um pequeno decréscimo em 2022. Isso se reflete no acompanhamento das pesquisas colaborativas pelos NIT e nos acordos de licenciamento. No último ano, 49% dos NIT informaram que são responsáveis pela gestão de alguns dos projetos colaborativos de sua ICT, e quase 14% fazem a gestão de todos os projetos. A pesquisa mostra também que o número de NIT com licenciamentos vem aumentando ano a ano, e em 2022 tínhamos 38,2% dos NIT com acordos de licenciamento vigentes.

Segundo a pesquisa, qual tem sido o grau de sucesso no licenciamento da PI gerada e na Transferência de Tecnologia das ICTs brasileiras? 

Em 2022 12% das PI depositadas foram licenciadas e dos licenciamentos 44,6% geraram royalties. Mas esses valores são médios. Quando analisamos, por exemplo, a ICT com maior número de licenciamentos em 2022 a taxa aumenta, resultando em 53% de licenciamentos por PI protegida.

A criação de empresas spin off, geradas a partir de conhecimento advindo da ICT é uma realidade no Brasil? O NIT participa deste empreendimento?

Quase 55% dos NIT não têm conhecimento sobre as spin offs criadas a partir dos conhecimentos gerados pela ICT e 32% têm conhecimento parcial apenas. Acreditamos que ainda que a ICT estimule a criação de spin offs, isso não deveria acontecer à revelia de um contrato formal de licenciamento a ser gerenciado pelo NIT, mesmo que não oneroso.

Quais são as principais potencialidades e vulnerabilidades dos NITs segundo a mais recente Pesquisa Fortec de Inovação? 

Já temos no país uma massa crítica de NIT consolidados, com pessoal capacitado e importantes resultados sendo obtidos em termos de transferência de conhecimento e tecnologia, seja via licenciamento para empresas já estabelecidas, seja via spin offs acadêmicas. Isso gera um efeito demonstração da importância do papel desempenhado por esses NIT na promoção da inovação no Brasil, em articulação com outros atores do ecossistema de inovação.

Por outro lado, ainda há um grande caminho a ser percorrido. Boa parcela dos NIT foram criados sem a existência de recursos ou estruturas mínimas para o seu funcionamento adequado. Ainda assim, o número médio de funcionários vem aumentando nos últimos anos, indicando uma melhoria em suas estruturas.

Apesar de a maioria dos NIT respondentes informar que estão implementados (95,4%), menos da metade (38,2%) possuía contratos de licenciamento vigentes em 2022. Por outro lado, é possível observar que esse percentual do número de NIT vem aumentando a cada ano base da Pesquisa.

Outro ponto de vulnerabilidade, como já falamos, é o baixo número de NIT que acompanham a criação de spin offs, o que está relacionado também ao alto número de NIT que ainda não implementaram política a respeito da comercialização de PI por meio da criação de empresas spin-offs (60,5%). Aliás, os NIT ainda carecem de apoio e orientação acerca da implementação dessa e das demais políticas previstas na Lei de Inovação, tarefa na qual o FORTEC tem concentrado boa parte de seus esforços.

Mas eu gostaria de chamar a atenção para uma potencialidade importante que é o despertar dos NIT para a priorização dos objetivos estratégicos voltados para uma relação com a sociedade, tanto por meio do serviço a inventores e a promoção do conhecimento gerado pela ICT, quanto para a ampliação da relação com empresas, o que pode gerar resultados cada vez melhores em atividades que envolvam transferência de tecnologia e inovação.

A Pesquisa Fortec de inovação está em período de apuração de dados ano base 2023. Como os NITs têm acesso ao formulário de coleta?

Os NIT que têm participado regularmente da Pesquisa FORTEC de Inovação já receberam link individualizado para encaminhamento de seus dados. Nossa equipe, ao analisar as respostas pode identificar eventuais inconsistências, se for o caso, entra em contato com o responsável pelo envio das respostas para esclarecimentos de dúvidas. Ao final do prazo estabelecido para o recebimento das respostas, em 30/4/2024, é gerada a base de dados referente ao ano em questão, que subsidia a elaboração de um relatório, distribuído gratuitamente.

O link para preenchimento do formulário é requisitado por meio do e-mail inovacao@fortec.org.br

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